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Os pais que criam e educam seus filhos conhecem muito bem uma criança mimada: ela tende a acreditar que o mundo gira ao seu redor e que todas as suas necessidades e desejos devem ser satisfeitos imediatamente. A criança mimada tem dificuldade em lidar com situações de conflito, em aceitar um “não” como resposta. Se não for superado este comportamento, esta etapa não passa e se acumula na forma de transtorno na idade adulta. O problema é quando o adulto mimado resolve por fogo no parquinho.

E isto aconteceu recentemente, sob a forma de “tarifaço”.

Imbuído de grandiosidade, falta de empatia e arrogância imperial, o atual presidente norte-americano escreveu uma cartinha ao presidente do Brasil. Foi devolvida. Parte de uma mentira, seu país estaria com déficit na relação comercial com o Brasil, para justificar a imposição de 50% dos EUA sobre os produtos do Brasil. No entanto, a imposição fala mais sobre a política da extrema-direita do que sobre qualquer estratégia econômica.

O norte-americano Paul Krugman, prêmio Nobel de Economia, classificou a cartinha como “perversa e megalomaníaca”.

Taxei porque eu posso”, disse o presidente de lá em tom de deboche. Sua queixa contra o Brasil, no entanto, é quanto ao julgamento do ex-presidente perante a Suprema Corte. “Pare o julgamento e nós reverteremos as tarifas”, disse o amigo Steve Bannon em tom de negócios.

A história das relações entre os Estados Unidos e a América Latina tem sido marcada por intervenções e interferências. Isto não é novidade. E a recente política externa dos EUA tem se notabilizado por bombardeios, ameaças e “tarifaços”.

Os interesses das empresas gigantes de tecnologia, a decadência da economia norte-americana, a desdolarização do comércio internacional e o crescimento das relações multilaterais entre países, como os BRICS, são algumas causas reais apontadas por analistas.

Para piorar o soneto, figuras centrais da extrema-direita brasileira têm articulado em favor do tarifaço de 50% impostos ao Brasil: um deputado brasileiro nos EUA tem articulado e festejado a vingança; o ex-presidente tem dito que “só a anistia salva do tarifaço”, agindo em causa própria e mandando às favas o Brasil e a sua economia e, por fim, o governador que já havia comemorado de boné a vitória da extrema-direita dos EUA, pois traria mais investimento para o Estado de São Paulo, escolheu o lado do agressor.

Segundo o economista Krugman, as exportações para os EUA representam menos de 2% do PIB brasileiro, incapaz de intimidar o grande país. Para o jornal O Estado de São Paulo, no entanto, a comemoração do governador paulista foi um tiro no pé: 18,2% das exportações paulistas em 2024 foram para os EUA e trouxeram 77 bilhões de reais ao Estado.

O possível prejuízo à indústria aeronáutica, à citricultura e às outras atividades econômicas afetam em cheio a arrecadação do Estado, empregos e a cadeia produtiva. O governo paulista não tem a dimensão real da importância do Estado de São Paulo para o país, atua como um gerente e vendedor de empresas públicas. Parece querer trilhar a vanguarda do atraso.

O conservador jornal O Estado de São Paulo tem questionado duramente governadores e políticos “patriotas” da direita que jogam contra o seu país em troca de interesses particulares e eleitorais: “projeto autoritário, retrógrado e personalista”, “coisa de mafiosos”, “miséria moral e intelectual” e “desonestidade intelectual”. Denuncia a utilização de suas redes para impingir ao atual presidente da República a responsabilidade do ato.

Boa parte deste aludido grupo escolheu a contemplação: o silêncio dos indecentes. São políticos que nunca fugiram à luta porque nunca lutaram pelo seu país, seus povos, sua cultura e a sua arte.

Contudo, o sol surgirá para todos! Dos jovens de Brasília, do Legião Urbana, vem a letra: “quando o sol bater na janela do teu quarto… lembra e vê que o caminho é um só.

De Brasília, o atual presidente tem respondido com diplomacia, defendendo a soberania, as instituições, os poderes independentes e a autonomia do Judiciário, inclusive na ação contra os golpistas. Fala em busca de novos parceiros comerciais para salvar o desenvolvimento, a renda e o emprego. O episódio tem unido o Executivo e o Judiciário, o governo e o setor produtivo brasileiro, com amplo respaldo da população.

Talvez seja este o canto do galo capaz de acordar todos os brasileiros.

Ana Perugini é deputada estadual, procuradora especial das mulheres e vice-presidente da Comissão de Assuntos Metropolitanos e Municipais da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo

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