Descobri que o tempo é apenas um espaço. Em 2004, fotografei um outdoor nas margens da SP-101 (Rodovia Jornalista Francisco Aguirre Proença), na Avenida da Emancipação, com o anúncio da tão sonhada ETE (Estação de Tratamento de Esgoto) de Hortolândia. Era só um cartaz em um ano de eleição.
Meses depois, elegemos Ângelo Perugini prefeito pela primeira vez e conquistamos uma cadeira na Câmara Municipal. Diante de tantos problemas e necessidades da população, pensamos: o que fazer primeiro? A cidade estava escura, sem vida, os índices de criminalidade lá em cima – Hortolândia era considerada uma das cidades mais violentas do Brasil – e havia fossas sanitárias até nas calçadas.
Durante nossa caminhada até ali, havíamos dito que ninguém pagaria mais asfalto e não teria de usar sacolinhas para proteger os pés do barro. Tínhamos uma cidade idealizada dentro do coração e muito trabalho pela frente para torná-la realidade. Acreditávamos que Deus estava no controle de tudo. E realmente estava.
Começamos pela iluminação, para deixar a cidade mais segura, e buscamos sustentação jurídica para criar o plano comunitário de asfalto, que garantiu a pavimentação das ruas dos bairros, sem qualquer custo para as famílias hortolandenses. Nossa, e as fossas? Eram mais de 90 mil espalhadas pela cidade. E ainda faltava água, e nossa estação de tratamento não passava de um sonho estampado em um cartaz.
Nosso trabalho na Câmara de Vereadores ganhou as ruas. Nosso gabinete era montado em cada bairro do município, colhendo demandas e anseios do nosso povo. Mas, precisávamos potencializar nossa atuação e cobrar maior participação do Governo do Estado na melhoria da infraestrutura.
Em 2006, conquistamos uma cadeira na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo), um feito inédito para a cidade, na época com apenas 15 anos. Ao lado do Ângelo, dos vereadores e da população, reivindicamos e conquistamos a atenção que Hortolândia merecia. O efetivo cumprimento do contrato firmado com a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) era uma das prioridades.
Na época, um secretário da Administração Municipal, ao perceber minha indignação com o serviço prestado à cidade, sugeriu que investigássemos a companhia.
Em 2007, lançamos a Frente Parlamentar de Acompanhamento das Ações da Sabesp, na Alesp, um trabalho que permeou os oitos anos do nosso mandato e não evidenciou apenas as falhas na prestação de serviços em Hortolândia, mas também em inúmeras cidades do Estado.
Com a Frente, realizamos audiências públicas, colhemos demandas e unimos prefeitos, vereadores, lideranças da sociedade civil organizada, representantes de entidades públicas e privadas e de organizações não governamentais em torno de um único objetivo: levar saneamento básico de qualidade para todas as regiões paulistas.
Mergulhada em estudos sobre saneamento, cheguei a pensar em fazer engenharia e acabei trabalhando junto com o Consórcio PCJ (Consórcio Intermunicipal das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí), órgão do qual Ângelo Perugini acabou sendo presidente.
Aos poucos, aquele sonho estampado no outdoor foi se materializando. Hoje, Hortolândia tem um dos melhores saneamentos do Brasil, segundo o Ranking da Universalização do Saneamento 2021, divulgado no último dia 15 de junho pela Abes (Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental). O índice de coleta de esgoto é de aproximadamente 98% e 100% de todo esgoto coletado na cidade é tratado naquela ETE do cartaz de 2004.
Então o tempo é só um detalhe. É o espaço! E os sonhos de hoje, por mais que possam parecer distantes, aprisionados em um cartaz, podem se tornar realidade. Tudo depende de nossa fé e capacidade de nos irmanar, trabalhar e caminhar. Tratar da política, que é a arte sublime de praticar o bem. Só devo agradecer! Viva Hortolândia! Gratidão a todos que contribuíram para a realização desse sonho. Gratidão.