Grupo que vai avaliar órgão responsável por regulação de vagas na rede pública de saúde de SP foi lançado em Campinas com participação de gestores, sindicalistas e profissionais de saúde
Descentralizar a Cross (Central de Regulação de Oferta de Serviços de Saúde) e criar unidades regionais que conheçam a estrutura de cada região e possam fazer a gestão das vagas do SUS de maneira mais eficiente e transparente. A mudança foi apontada por especialistas como alternativa para acabar com gargalos na ferramenta usada pelo Governo do Estado para determinar a ordem de atendimento na rede pública de saúde, durante evento promovido na última sexta-feira (23) pela deputada estadual Ana Perugini (PT) para o lançamento da Frente Parlamentar do Sistema Cross/SUS.
O evento foi realizado no Plenarinho da Câmara de Campinas e reuniu cerca de 90 pessoas, entre profissionais de enfermagem, médicos, gestores hospitalares, dirigentes da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), representantes de sindicatos, conselheiros tutelares, conselheiros municipais de saúde, vereadores de várias cidades da região, além de secretários de saúde e defensores do Sistema Único de Saúde.
Para compôr a mesa de abertura, a coordenadora da frente parlamentar instituída pela Assembleia Legislativa convidou a superintendente do Hospital de Clínicas da Unicamp, Elaine de Ataíde; o secretário de Saúde de Hortolândia, Denis Crupe; o médico emergencista e professor da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, Fábio Alves; e o diretor-executivo da Deas (Diretoria Executiva da Área de Saúde) da Unicamp, Oswaldo Grassiotto, que representou o reitor da Unicamp, professor Antônio José de Almeida Meirelles, Tom Zé.
Primeira mulher a comandar o HC, Elaine falou da necessidade de um diagnóstico para avaliar a situação dos leitos no estado e defendeu a proposta de descentralização da Cross, que está sob avaliação do governo estadual. “Quando a gente está dentro dessa nossa região, é muito mais fácil a gente poder fazer a reestruturação e o encaminhamento de pacientes de forma apropriada. Com essa regionalização, a gente vai conseguir atender melhor os nossos pacientes dentro de suas próprias regiões”, disse a gestora do HC.
Fábio Alves, que atua como plantonista e acumula experiência como secretário de Saúde em Santa Bárbara d’Oeste, Itatiba e Paulínia, ratificou a importância da regionalização como forma de garantir equidade de acesso – um dos princípios do SUS – em todo o estado.
“Se não for uma Cross regional, ela não vai olhar para lugar nenhum. Precisa ser regional para que possamos saber dos meandros de cada região, como a RMC, por exemplo. É aqui que opera, é aqui que podemos pactuar e contratar. Porque há necessidade de fazer aqui cogestão, para ter transparência no que será ofertado pelos hospitais, da especialidade dos AMEs e dos municípios”, justificou o médico.
O secretário de Saúde de Hortolândia chamou a atenção para a necessidade de reestruturação do SUS e cobrou maior participação do Governo de São Paulo. “O estado não participa com a gente desse financiamento tripartite [com estado e municípios]. A gente tem uma dificuldade enorme de conseguir qualquer recurso para custeio e até investimento nas ações do município. Nenhuma prefeitura vai ter capacidade de suportar todo o sistema de forma individual, sem dinheiro entrando”, disse Denis Crupe.
Para o diretor-executivo da Deas (Diretoria Executiva da Área de Saúde), Oswaldo Grassiotto, o fator demográfico é um dos responsáveis pela situação da saúde pública na região. “A Região Metropolitana de Campinas teve um crescimento quase 50% maior, se comparado ao restante do estado. Ganhou 600 mil habitantes nos últimos 12 anos e 130 leitos aproximadamente. Deveria ser ao menos o dobro disso. Nós sabemos que nossa região precisa muito dessa ferramenta de regulação que dá racionalidade e economicidade a todo processo. Por isso, essa frente é muito bem-vinda e pode contar com apoio da Unicamp”, afirmou Grassiotto.
Ao término do encontro, a deputada Ana Perugini avaliou como técnico e enriquecedor o debate e pediu a colaboração de todos para a melhoria da regulação de vagas no estado.
“É uma frente para tratar do Sistema Cross porque é um problema que tem levado muitas pessoas ao desespero. É suprapartidária, pois precisamos de muitas forças para resolver algo que é da humanidade, em especial a saúde na região de Campinas e no Estado de São Paulo. Eu acredito que nós vamos encontrar uma forma de fazer, melhorar o sistema e garantir equidade para todos os usuários do SUS”, disse a coordenadora da frente.
A partir do lançamento, Ana se reunirá com integrantes da frente para elaboração de um plano de trabalho que incluirá a realização de diligências e audiências públicas no estado.